Mulheres pretas à frente
Com protagonistas à esquerda, Joinville pode ter recorde de votos em candidaturas pretas
Em 2020, decidi meu voto na frente da urna. Adotado previamente o critério de votar em chapa que tem chance (por favor, façam isso), restava escolher a candidatura que receberia meu singelo apoio — uma dúvida que levei até a consumação do piririlim. As opções eram um trabalhador da cultura, um sindicalista e uma professora que seria a primeira mulher preta do nosso legislativo. Ajudei a eleger a vereadora Ana Lúcia Martins com este apelo. Uma mulher negra no parlamento joinvilense era um acontecimento. Sobre ele houve uma comoção de toda a esquerda local que deu resultado.
Em 2024, este cenário mudou, e para melhor. Nesta eleição, pela esquerda, duas mulheres pretas serão as puxadoras de voto. Ana Lúcia, como atual vereadora, tem toda a condição de se reeleger. Vanessa da Rosa, que despontou na campanha de 2022 à Alesc, vem como a novidade que arrasa-quarteirão. A câmara é apenas um passo para uma política com potencial para ir muito mais longe.
Ainda pelo Partido dos Trabalhadores, dois jovens pretos constroem pré-candidaturas sólidas que podem chegar forte em outubro. O rapper Lucas Ukah tem ampla trajetória na cultura e tem conseguido se posicionar efetivamente nas redes sociais, algo que pode ser convertido em voto quando ir à rua. Já o professor Rhuan Carlos Fernandes tem trajetória militante consolidada e apoio do movimento negro.
A população preta e parda de Joinville soma aproximadamente 150 mil pessoas. Claro que tudo isso não se converte em voto automaticamente, mas, com trabalho direcionado e bem feito, pode resultar em uma inédita eleição de pessoas pretas ao legislativo. O cenário é bem diferente do que narrei no primeiro parágrafo. O apelo que direcionou votos para Ana Lúcia já não existe mais, mas outros elementos surgiram no cenário. Em vez de pensar que vai ser um voto dividido, lembremos que ele pode ser ampliado.
BUSCOU O CONTATO
O governador Jorginho Mello claramente buscou o confronto na primeira reação à greve dos trabalhadores da educação. Em um cenário que diferentes direitas dominam e até brigam entre si, Jorginho jogou para a torcida. Inflamar o eleitorado de extrema-direita contra os trabalhadores, especialmente os organizados, é sempre parte da estratégia.
Só que o contato veio. Na terça-feira, a manifestação da categoria mostrou uma força. Em vez de desmobilizar, ameaças inconstitucionais inflamaram a categoria que foi em peso para Florianópolis. E quem antes se recusava, teve que sentar para negociar. Veja as reivindicações.
É cedo para dizer se haverá avanço. Um avanço necessário para o estado que se diz mais rico ao mesmo tempo que pior paga seus professores e tem cerca de 70% de profissionais temporários. São fatores que comprometem o estado econômica e socialmente, o que deveria mobilizar toda a sociedade em torno de uma solução. E a solução é contratar mais e pagar melhor.
Se é cedo para dizer se haverá avanço, é hora de reconhecer que a luta está mais quente do que nunca. A extrema-direita e outras direitas até se iludem que SC é terra de gente mixuruca, mas sempre mostramos que não é bem assim. Vai ter que sentar para negociar e se ficar puto é pior.
OUTRA AMOSTRA
Na Univille, onde foi bajulado pelo universidade gratuita, o governador Jorginho Mello teve uma amostra da insatisfação dos estudantes com o programa que distribui dinheiro por critérios duvidosos. Do lado de fora de recepção protegida por aparato bizarro militar, estudantes se fizeram ouvir. Mais do que uma pedra no sapato de Jorginho, é uma amostra do que o movimento estudantil — nem sempre tão animado — tem obrigação moral de fazer no debate público.
MAIS UNIVERSIDADE
É nesta quinta-feira, às 19 horas, na CVJ, a audiência pública sobre a instalação de um curso de medicina na UFSC de Joinville. Além do novo curso, a abertura de cursos de outras áreas e a retomada das obras no terreno da universidade federal estão em pauta. Com a boa vontade do governo federal sobre o tema, este é o momento mais propício para fazer coro e conquistar de vez o avanço. Não vai acontecer se você ficar em casa.